30/04/2017 08h57
'A guerra não acabou, ela só começou'
Os povos do Vale do Javari não estão dispostos a ficar quietos, vendo a destruição dos programas que ajudam a proteger suas terras e costumes. Paulo Marubo, coordenador da União dos Povos IndÃgenas do Vale do Javari (Univaja), diz que os Ãndios têm sofrido com a pressão de madeireiros, empresas, caçadores e pescadores que avançam sobre seus territórios, mas não vão admitir o abandono de medidas de proteção que, mesmo precariamente, garantem sua sobrevivência.
"Nosso povo não vai ficar parado, olhando e morrendo. Vamos agir, não deixaremos essa situação acontecer", diz Paulo Marubo. "Somos isolados, mas não somos ignorantes. Sabemos dialogar e conhecemos nossos direitos. A guerra não acabou, a guerra só começou. Vamos partir para cima do governo."
Indigenistas e lideranças locais temem que o avanço sobre a terra indÃgena faça a região reviver capÃtulos sangrentos de violência e mortandade, como os ocorridos durante o "primeiro ciclo da borracha", entre 1870 e 1911, que levaram doenças, assassinatos e escravidão para as aldeias do extremo oeste da Amazônia. Mais tarde, em 1970, os povos tradicionais voltariam a sofrer com a exploração madeireira. Foram décadas de invasões, até que o Javari viesse a ter seu reconhecimento definitivo como terra indÃgena demarcada e protegida. Isso só aconteceria em 29 de maio de 1998.
"O que assistimos hoje é o esfacelamento da polÃtica de isolados. Podemos ter um novo momento de genocÃdio desses povos. Vemos equipes de caça, garimpeiros e madeireiros se aproximando da terra indÃgena. Os Ãndios têm imunidade muito baixa. Qualquer vÃrus pode dizimar grupos inteiros", diz Bruno Pereira, agente indigenista da Funai que atua na Frente de Proteção do Vale do Javari.
Em março, lideranças da região se reuniram na Assembleia Geral dos Povos IndÃgenas do Vale do Javari. Em carta redigida após o encontro, as organizações indÃgenas reafirmam que as bases de fiscalização estão sem recursos humanos e financeiros.
Registros
Hoje, há 107 registros da presença de Ãndios isolados em toda a Amazônia Legal, área que abrange nove Estados. Povos da etnia matÃs, marubo, canamari, culina e maioruna, também conhecidos como matsés, são de contato permanente. Já o povo corubo é considerado isolado, apesar de um pequeno grupo ter sido contatado em 1996 pela Funai. A maior presença de povos isolados do Brasil se dá no Vale do Javari, onde já foram registradas 16 referências desses grupos. A população total da terra oscila entre 3,8 mil e 5,5 mil pessoas, sem incluir as estimativas da população de Ãndios isolados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo