02/05/2017 16h57
Brasil 'fracassou' em proteger terras indígenas, diz ONU
O Brasil "fracassou" em proteger os direitos dos povos indÃgenas. A constatação foi feita por relatores da ONU em documentos que serão utilizados como base para um exame na sexta-feira, 5, da polÃtica de direitos humanos do Brasil, em Genebra. "É motivo de preocupação o fracasso do estado em proteger as terras indÃgenas de atividades ilegais, especialmente em mineração e madeireiros", indicaram relatores das Nações Unidas, citados no informe distribuÃdo para todos os governos.
Nesta semana, em reuniões preparatórias para o exame do Brasil na ONU, governos já indicaram que o recente caso de violência contra indÃgenas no Maranhão reforçará o debate sobre a questão de demarcação de terras e os recursos para a Fundo Nacional do Ãndio (Funai). O grupo teria sido alvo de pistoleiros.
Mas antes mesmo do caso, os documentos da ONU distribuÃdos aos governos já apontavam como alarmante o "nÃvel de violência contra os povos indÃgenas".
A sabatina faz parte de um mecanismo criado pelas Nações Unidas para analisar a situação de todos os paÃses e que obriga os governos a darem respostas a cada quatro anos. Para se preparar para o questionamento, a ONU elaborou um raio-x completo sobre a situação brasileira. No documento, uma das principais preocupações se refere justamente à situação dos grupos indÃgenas.
Congresso
Para os relatores da ONU, existe ainda "uma tentativa contÃnua no Congresso de enfraquecer as proteções constitucionais e legislativas de direitos indÃgenas". Entre os exemplos citados está o novo código de mineração e a Proposta de Emenda Constitucional 215. A emenda pretende dar ao Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indÃgenas, hoje com o Poder Executivo. Um substitutivo ainda proÃbe as ampliações de terras indÃgenas já demarcadas. Para os grupos indÃgenas, isso é uma tentativa de dar mais poder à bancada ruralista.
Um dos obstáculos identificados pelos relatores é a questão do financiamento da Funai. Ainda que a relatoria elogie o Brasil pelo papel "construtivo da Funai", ela se diz "preocupada" com o corte de recursos. De acordo com o informe, equipes da ONU no Brasil relataram que a Funai "tem sofrido um agressivo corte de orçamento e que hoje está em seu nÃvel mais baixo nos últimos dez anos".
A saúde dos povos indÃgenas também é uma preocupação. De acordo com a ONU, apenas 57,9% das crianças são registradas em seu primeiro ano de vida. "A equipe (da ONU no paÃs) ainda indica que crianças indÃgenas são as principais vÃtimas de mortalidade infantil no Brasil. Eles têm duas chances mais de morrer antes de completar 1 ano, com muitos casos resultando de doenças que poderiam ser prevenidas", indicou.
Documentos obtidos pela reportagem ainda mostram que governos como da Alemanha, Bélgica e outros já deixaram claro que estão preocupados com a situação da demarcação de terras e dos confrontos. Berlim chega a citar relatórios da ONU em que falam de uma regressão nas condições dos povos indÃgenas.
Resposta
O Brasil terá a chance de dar uma resposta a esses temas na sexta-feira, em Genebra. Uma delegação será enviada pelo governo de Michel Temer. De acordo com o Itamaraty, ela será composta pela ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, pelo subsecretário-geral de Assuntos PolÃticos Multilaterais, Europa e América do Norte do Itamaraty, embaixador Fernando Simas Magalhães, pela secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e por Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnÃsio Teixeira.
Mas num documento preliminar, o governo já indicou que admite que o "desafio do Brasil é de ir adiante com a regularização das terras indÃgenas". Ao mencionar uma série de medidas sociais para atender à s necessidades dos povos indÃgenas, o governo ainda reconhece que eles "continuam entre os grupos mais vulneráveis da população brasileira no que se refere à renda, mortalidade infantil, desnutrição, saúde, educação e acesso a saneamento".
Fonte: Estadão Conteúdo