20/04/2017 07h36
Delações agravam situação de Lula em relação a sítio
Ao menos cinco delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República detalhes sobre a reforma feita em um sÃtio em Atibaia, no interior de São Paulo, que investigadores suspeitam ser do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre eles, o patriarca da famÃlia, EmÃlio Odebrecht, disse ter informado Lula sobre o andamento da obra em reunião no Palácio do Planalto. Também delator, o engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior afirmou ter comprado até um cofre para guardar o dinheiro usado para reformar o imóvel.
Os depoimentos reforçam as suspeitas da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba de que Lula é o real proprietário do imóvel e as benfeitorias serviram de contrapartida da empreiteira pela atuação do petista em favor do grupo na época em que foi presidente, o que configura propina. Um inquérito aberto há cerca de um ano sobre o caso foi prorrogado em janeiro e está em fase final.
O principal argumento da defesa de Lula é de que a propriedade não está em seu nome. A defesa admite, porém, que o ex-presidente esteve no imóvel algumas vezes com a famÃlia. Para investigadores, o registro em nome de outras pessoas seria uma forma ocultar patrimônio.
Em delação, EmÃlio disse ter relatado a Lula, em reunião no Planalto, em 2010, que as obras no sÃtio ficariam prontas no mês seguinte. O encontro, segundo ele, ocorreu no fim do ano, próximo do fim do mandato do então presidente.
EmÃlio relatou aos procuradores que, no encontro, o petista não teria ficado "surpreso" com a informação. "Eu disse: 'Olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tÃnhamos dado no problema lá do sÃtio'." Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.
Um dos principais interlocutores da Odebrecht com Lula, o ex-diretor de Relações Institucionais Alexandrino Alencar, afirmou que o pedido para a reforma no sÃtio foi feito pela então primeira-dama, Marisa LetÃcia, que morreu em fevereiro.
"Ela me falou sobre um sÃtio e me perguntou se a companhia poderia ajudá-los a finalizar obras e reformas que estariam atrasadas, porque a equipe que fazia o trabalho estava com desempenho medÃocre", afirmou. Segundo o delator, Marisa disse que ela e o ex-presidente pretendiam frequentar o imóvel a partir de janeiro do ano seguinte.
'Contrapartidas'
Além dos depoimentos nos quais relata sua relação com Lula, Alexandrino entregou aos procuradores uma relação de nove episódios em que a empreiteira atendeu a pedidos do ex-presidente. Segundo ele, eram "contrapartidas ao apoio e à influência polÃtica recebidos ao longo do tempo pelo atendimento das questões de interesse da companhia". Na lista consta, além do sÃtio em Atibaia, itens como a construção do estádio do Corinthians, em Itaquera, e uma mesada para Frei Chico, irmão de Lula.
Alexandrino também afirmou que, em 2011, procurou o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, para acertar uma maneira de "formalizar" as obras. Na ocasião, segundo o delator, eles combinaram de forjar notas para justificar os gastos na reforma. "Ele estava preocupado, digamos, como é que poderia aparecer essa obra sem um vÃnculo com os proprietários do sÃtio", disse o ex-diretor. Ao todo, segundo ele, a Odebrecht gastou R$ 1 milhão na obra.
Em depoimentos, o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e o ex-diretor da empresa em São Paulo Carlos Armando Paschoal também tratam da obra no sÃtio.
Cofre
Destacado pela empresa para acompanhar a reforma, o engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior disse em delação que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder a participação da Odebrecht. Ele afirmou ainda que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteira para executar a obra.
De acordo com o engenheiro, o dinheiro saÃa do Setor de Operações Estruturadas, o "departamento da propina" da empreiteira. "Eu liguei para ela (secretária do setor) e pedi os R$ 500 mil. Como eu nunca tinha manejado, em uma obra, uma soma dessa natureza, eu comprei um cofre especificamente e coloquei dentro de um armário na minha sala, dentro do meu escritório."
Segundo Costa Júnior, o pedido feito pelo então ajudante de ordem da Presidência Rogério Aurélio Pimentel era para construir uma "pequena casa para alojamento dos seguranças do presidente", "um campo de futebol", "uma edÃcula de quatro suÃtes atrás da casa principal do sÃtio", "uma adega para os vinhos de Lula", além da construção de uma sauna.
Defesa
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira, 19, que o sÃtio não pertence ao seu cliente e que não há qualquer acusação formal sobre o caso. "Com relação à s delações da Odebrecht, o que temos sempre respondido é que são declarações unilaterais de pessoas que têm interesse em negociar estas declarações em troca de liberdade ou benefÃcios", afirmou o advogado.
Em nota, o advogado Roberto Teixeira disse que "jamais propôs, orientou ou executou qualquer ato ilegal" no exercÃcio da advocacia. Segundo ele, o delator admite que o sÃtio era de Fernando Bittar, seu cliente. "Minha atuação, enquanto seu advogado, era a de formalizar as obras realizadas como condição para que meu cliente fizesse o pagamento do valor devido pelos serviços." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo