09/04/2017 10h20
Endividado, PT paulista faz ajuste e encolhe
Enquanto tenta organizar a resistência parlamentar e popular às reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer, o PT é obrigado a enfrentar o seu próprio ajuste fiscal.
Nas últimas duas semanas, o diretório estadual do PT de São Paulo, o maior e mais importante do partido, demitiu 13 funcionários. Com isso, o número de empregados, que chegou a ser de 55, em 2014, hoje está reduzido a oito trabalhadores.
Das três faxineiras, sobrou uma. A vigilância, que antes era 24 horas, agora funciona das 9h à s 21h. Quase todos os secretários estaduais tiveram de demitir assessores. O presidente estadual do partido, EmÃdio de Souza, que tinha quatro funcionários à disposição, agora tem só um.
Além disso, o PT-SP renegociou o valor do aluguel de sua sede de R$ 23 mil para R$ 16 mil mensais, cortou viagens, verbas de hospedagem e recursos para atividades de formação polÃtica, entre outras.
O principal motivo é uma dÃvida de R$ 25 milhões remanescente da campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao governo de São Paulo, em 2014. Segundo o presidente estadual, o pagamento da dÃvida da campanha consome 40% do orçamento do diretório, que hoje é de aproximadamente R$ 500 mil mensais.
Segundo EmÃdio de Souza, a principal dificuldade foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir doações empresariais a partidos e candidatos, o que era permitido até 2014. "A dÃvida foi contraÃda numa lógica, e esta lógica foi abolida logo depois da eleição", diz o dirigente.
EmÃdio isenta Padilha de culpa pela situação. "Ele está ajudando como pode", afirma.
De acordo com ele, no inÃcio de 2015, o PT-SP fez seu primeiro ajuste fiscal, demitindo mais de 20 funcionários (parte deles contratada só para o perÃodo eleitoral).
Sem as contribuições empresariais, a dÃvida se tornou praticamente impagável. No primeiro momento, o PT tentou renegociar as pendências, mas com o passar do tempo os credores foram perdendo a paciência e passaram a mover ações de cobrança judiciais contra o partido. As sentenças de execução legal começaram a pipocar no ano passado, as contas bancárias do diretório sofreram diversos bloqueios por ordem da Justiça, um deles por mais de dois meses, e a única saÃda encontrada foi cortar radicalmente as despesas para cumprir os acordos com os credores.
DÃvidas de candidatos a deputado assumidas compulsoriamente pela legenda somam outros R$ 10 milhões.
DÃzimo - Além do saldo da campanha de Padilha, o PT-SP sofreu no bolso o resultado da derrocada eleitoral em São Paulo nas eleições de 2014 - quando a bancada estadual caiu de 23 para 15 deputados - e de 2016, ano em que o número de prefeituras governadas pelo partido caiu de mais de 70 para 11.
Com menos deputados e prefeituras, houve uma redução considerável das receitas provenientes do chamado dÃzimo, a contribuição obrigatória que detentores de cargos eletivos e ocupantes de postos de confiança são obrigados a pagar ao partido.
A onda de demissões provocou fortes reações internas. Alguns dos demitidos tinham mais de 20 anos de serviços prestados à sigla e eram confundidos com dirigentes partidários.
Em um grupo de petistas no WhatsApp, uma dirigente estadual comparou as demissões ao ajuste fiscal que a ex-presidente Dilma Rousseff fez no inÃcio do segundo mandato. "Esse ajuste do PT foi pior que o ajuste da Dilma: cortou de quem ganhava quase nada para poder continuar bancando o privilégio de todos", escreveu a dirigente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo