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São Lourenço
17/05/2012 17h12

Opinião O Colégio Interno (II)

O Colégio Interno (II)

Houve uma grande exceção, em 1960. Era o meu amigo Herculano Damasceno,  professor de Latim.

Os que eles não gostavam, eram perseguidos. Em vez de se preocuparem com o porquê de algum aluno não brincar, não praticar esportes e ficar sempre isolado num cantinho, chamavam-no para exercer algum trabalho não remunerado lá mesmo no colégio. Assim, aconteceu comigo. Naquele ano eu era o responsável pela Rádio e no ano seguinte, pelo barzinho da Divisão dos Menores. Só que aí, eu podia comer e beber o que quisesse. Como a comida do colégio era horrível, eu acabava almoçando e jantando doces, paçocas, balas e chocolates. Acabei até engordando!

Quando tínhamos acesso ao refeitório dos irmãos é que ficávamos sabendo o quanto a comida deles era boa e diferente da nossa. Será que o banho deles também era frio, mesmo no inverno?

Em 1961 tive uma briga com o nosso regente, porque ele cortou a minha saída do final de semana ( tínhamos o direito de passar as tardes de domingo fora da cadeia, digo, do internato) porque eu não praticava nenhum esporte. Teria sido esta atitude justa e certa?

(Nas saídas íamos à matinê no Cine Rio Branco  ou mesmo no Rex ou Capitólio. Aproveitávamos para dar uma passada no Bar Itália para comer um bauru, acompanhado por um Crush ou na Perisqueira Cinelândia para comer cigarretes com Coca-Cola)    

A nossa discussão foi tão feia que, em determinado momento ele chegou a querer expulsar-me da escola. Nos meus catorze anos, devo ter posto para fora tudo o que estava engasgado em mim  todo aquele tempo...

Provavelmente, ele mesmo chegou à conclusão de que estava errado. Passou o tempo todo, naquele domingo de abril, uns quarenta anos atrás, querendo me agradar e conversar. Puxa! Até que enfim algum deles se mancou.

Coincidência ou não, três semanas depois, eu recebia minha carta de alforria.

Pedira a meu pai que me tirasse do internato e me deixasse morando num hotel e estudando externo na mesma escola, o que foi feito.

A partir daí, e pelo convívio menor, passei a ser amigo daquele irmão e quando ele  se foi, no ano seguinte, mantivemos contato muito tempo. Na nossa despedida, certamente, com peso na consciência, deu-me um monte de selos, que ambos colecionávamos.

Em 1962, externo, fiquei amigo de meu professor da quarta série ginasial. Era um aluno excelente. Num dos últimos anos, ao responder a meu cartão de fim de ano comentou nunca ter visto uma fidelidade tão grande quanto a minha.Até sua morte em 2008, nunca deixei de me lembrar dele em cada Natal  

Tendo 1962 chegado ao fim, deixei Varginha e aquele colégio e fui para o Rio de Janeiro, no ano seguinte.

(continua)

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