16/09/2020 07h10
América Latina na 2ª Guerra
Setenta e cinco anos parece bastante tempo, mas ainda há sobreviventes da Segunda Guerra Mundial entre nós - um deles, combatente do grupo de mais de 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira, derrotou também a covid-19. Muitos livros foram escritos e filmes foram feitos sobre um dos conflitos mais violentos da história, que deixou mais de 50 milhões de mortos e promoveu horrores como o Holocausto e os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki. A participação da América Latina na guerra, porém, nem sempre é tão comentada. A minissérie em quatro episódios Segredos de Guerra, que está no ar no History Channel, com um capÃtulo novo toda sexta, à s 21h30, pretende recuperar essa história.
"Esse projeto era muito importante porque estão se completando 75 anos do fim da guerra", disse ao Estadão o historiador mexicano Alejandro Rosas, que é consultor e apresentador do programa ao lado do ator Juan Pablo Medina (A Casa das Flores). A guerra acabou na Europa em maio de 1945 e, no PacÃfico, dia 2 de setembro daquele mesmo ano, com a rendição do Japão. "A ideia de falar da participação da América Latina na Segunda Guerra Mundial era fundamental porque é uma página esquecida", completou Rosas.
E tem de tudo: espionagem, sabotagem, campos de prisioneiros, nazistas escondidos, participação de Hollywood no esforço de guerra e até a primeira batalha naval do conflito, em pleno Rio da Plata. "Em nÃvel regional, não sabemos muito uns dos outros. O objetivo é dar um grande panorama do que foi a participação latino-americana", contou Rosas. Entre suas histórias favoritas, está a da Força Expedicionária Brasileira. "É incrÃvel que tenham mandado 25 mil homens. É uma quantidade enorme. O México mandou 30 pilotos", disse Rosas, que procura buscar detalhes inusitados, como o fato de os brasileiros não conhecerem a neve e combaterem em meio a nevascas. "É importante mostrar o lado humano da história. Porque ganha uma dimensão mais rica. Quando falamos de intriga, espionagem, sabotagem ou uma batalha, é preciso colocar um rosto. O que essa pessoa gostava de beber? Como Ernest Hemingway e o mojito. Ele passava a tarde tomando mojito e ouvindo as conversas que depois ia relatar. Não podemos perder de vista que a história é feita por pessoas."
Segredos de Guerra explora aspectos das diferentes fases e faces do conflito mundial. "Quase todos os paÃses latino-americanos eram pró-Alemanha. Passaram todos pela neutralidade. Depois de Pearl Harbor, os EUA começaram a pressionar para que lutassem do lado dos Aliados. Todos entramos tarde na guerra", explicou Rosas. O primeiro episódio explora a pressão comercial dos dois lados do conflito, de olho nos recursos naturais da região. O segundo foca na propaganda de guerra, destacando a presença de embaixadores culturais como Walt Disney e Orson Welles. O terceiro fala de espionagem e contraespionagem, enquanto o quarto retrata os refugiados e criminosos nazistas que se instalaram na área.
A pandemia quase atrapalhou os planos - Medina e Rosas iam gravar uma parte juntos em Buenos Aires, mas acabaram fazendo separadamente no México. "Gravei oito horas direto, mas fiquei feliz de ter participado", disse o ator. Para o historiador, conhecer a história é fundamental. "Depois de um conflito tão violento - a pior guerra da história da humanidade, com 55 milhões de mortos, cidades destruÃdas, famÃlias devastadas -, era de se esperar que o ser humano tivesse aprendido algo. Mas não", disse. "Termina a Segunda Guerra Mundial e vêm a Guerra Fria, Coreia, Vietnã, Bálcãs, o terrorismo no Oriente Médio. Então é importante contar essa história, porque a guerra não é o melhor caminho e não podemos permitir nunca mais um genocÃdio ou o uso de armas de destruição em massa, como as bombas nucleares. Não passou tanto tempo. Mas a humanidade não entendeu muita coisa. Não podemos achar que superamos." Além dos novos episódios nas sextas 17 e 24, Segredos de Guerra está no aplicativo History Play, disponÃvel para todos os assinantes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo