15/02/2021 18h21
'Cobra Kai': nova temporada traz de volta conflitos do passado
Quando estreou no YouTube Red, em 2018, não se falava em outra coisa a não ser em Cobra Kai. Foi a primeira vez que uma série da plataforma tirou o sono dos fãs da franquia Karatê Kid, e superou o interesse do público em produções como 13 Reasons Why e The Handsmaid's Tale.
Envolto no elemento da nostalgia, Cobra Kai já tinha futuro garantido. Foram 34 anos após o primeiro filme e a trilha sonora de Glory Of Love brilhou novamente no campeonato de All Valey. Protagonizado por Ralph Macchio, o Daniel LaRusso, e William Zabka, como Johnny Lawrence, a terceira temporada de Cobra Kai abre o ano de 2021, neste dia 1º, na Netflix, com as consequências do embate que marcou a temporada anterior.
Um dos desafios da produção foi reintroduzir personagens que deixaram de ser jovens e que agora acumulam experiências e novas responsabilidades. Na estreia da série, o antagonista Lawrence se tornou um sujeito solitário e alcoólatra. Impedido de seguir em frente, ele guarda a derrota como uma cruz que sepultou seu futuro na vida adulta. Mas tudo mudo ao testemunhar o sofrimento de Miguel Diaz (Xolo Maridueña), um estudante perseguido por valentões na escola. Para dar um fim nos abusos, Lawrence sente que deve reabrir a academia de caratê Cobra Kai, onde treinou na adolescência. "Voltar é como organizar aquelas reuniões escolares", conta Zabka ao Estadão, em entrevista virtual. "É familiar, mas ao mesmo tempo é tudo novo. Todo mundo mudou um pouco e ainda tem a chegada dos mais jovens."
Para o mocinho da época, Daniel LaRusso, as coisas também mudaram. Ao pôr em prática a filosofia do saudoso Sr. Miyagi (Pat Morita), o antigo pupilo se tornou um grande empresário no ramo de venda de carros. E ele vai se incomodar com o projeto desse novo herói Lawrence. "Agora fazemos parte de um grande conjunto de atores", conta Macchio. "E tudo importa, o legado da história e o que estamos fazendo hoje com uma nova geração."
As primeiras surpresas de Cobra Kai não surgem de maneira óbvia. Criadores da série, Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg se esforçaram para oferecer novos pontos de vista e humanizar as personagens. Enfrentar os conflitos do passado é tão importante quanto saber de cor o lema "Ataque primeiro, ataque forte, sem piedade". Na segunda temporada, já na nova casa da Netflix, a série guarda novas aparições. O sensei mau caráter John Kreese (Martin Kove) começa a ensinar na academia após receber uma segunda chance de Lawrence. "Os criadores tiveram de pensar em como fazer isso e surpreender. Estar com velhos amigos e parceiros pode parecer fácil, mas tudo isso cria novas situações, levando Cobra Kai adiante", explica Zabka.
O mais importante é que a academia vai servir par a revelar que a velha rivalidade e a desconfiança só vão inflamar o combate. Após uma luta entre estudantes, o resultado é arrasador e vai na contramão de tudo o que Mr. Miyagi ensinou.
Com dez episódios, a terceira temporada, assistida pela reportagem, vai trazer outros velhos conhecidos da franquia, como o vilão Chozen (Yuji Okumoto) e a doce Kumiko (Tamlyn Tomita), além de tentar juntar os cacos dos efeitos da insanidade que afetou a todos. "Há algo de espiritual, filosófico, de encontrar equilÃbrio em sua vida", diz Macchio. "Miyagi ensinava que não se devia lutar, era o melhor caminho."
É também nesta temporada que Cobra Kai faz uma bonita homenagem ao Sr. Miyagi, interpretado por Pat Morita, morto em 2005. Em um dos episódios, Daniel Sam viaja à s origens de seu mestre, em Okinawa, no Japão. Para Macchio, um exemplo de ator perfeito no papel perfeito. "É difÃcil saber onde começa e termina cada um. Ele era um grande comediante, mas também muito sério. Não sinto nenhum fardo, mas a responsabilidade de dar a mim mesmo e tentar compartilhar conhecimento. Foi muito positivo para mim."
Zabka concorda
Os desafios podem assustar, mas há segredos aprendidos no caratê que podem transformar qualquer situação. "No jiu-jÃtsu brasileiro é incrÃvel usar essa energia para escapar", conta. "Você aprende a lutar para não lutar. De qualquer forma, é um combate esportivo se você quiser."
Reviver as lembranças de Karatê Kid só não foi mais simples que o treinamento fÃsico, primordial para as cenas de Cobra Kai. Zabka reconhece que mais de três décadas afetam o corpo e que os bastidores da produção serviram para reativar socos e chutes. "Na época do filme, éramos mais jovens e mais flexÃveis e agora o treinamento foi intenso e cansativo", conta. "O caratê mostrado na série se fez no trabalho fora das câmeras, o que tem muito a ver com as artes marciais, no esforço, foco e no trabalho duro."
Tributo a Mr. Miyagi emociona
Johnny Lawrence e Daniel LaRusso não são mais os meninos de antes. Na terceira temporada de Cobra Kai, que estreia na sexta, 1º, a responsabilidade pela famÃlia e por levar os ensinamentos do caratê foi longe demais. O primeiro episódio desta nova fase deixa aparente a dor de todos.
O jovem Miguel sofre com os efeitos de uma luta que não era para ter acontecido. Para Samantha, filha de LaRusso, os danos estão lá, provando que brincar de caratê não é para qualquer um. "Eles não estão em lugares confortáveis", aponta um dos showrunners, Jon Hurwitz, ao Estadão. "Miguel está no hospital.
Samantha está sentindo o trauma da última luta e Robby, o filho de Lawrence, fugiu." A situação para os veteranos é de que tudo custou muito caro. "Johnny e Daniel se sentem parte de tudo que deu errado. Johnny tentou fazer a coisa certa, ensinar lições e superar o passado, como um novo professor. Mas por que fazer a coisa certa, mesmo quando tudo vai mal?"
Segundo Hayden Schlossberg, a resposta está escondida nos princÃpios do caratê e deve ajudar o elenco de Cobra Kai a buscar apoio, explica o produtor. "O bom do caratê e de todas as artes marciais é que as técnicas não requerem força fÃsica. É indicado para crianças até para atletas mais experientes. O jiu-jÃtsu brasileiro, por exemplo, é para que as pessoas pequenas consigam derrubar oponentes maiores usando técnicas."
Para o produtor Josh Heald, as cenas de luta, grande forte da saga, continuaram e deram muito trabalho. "É preciso ensaiar tudo e o tempo todo: cada movimento, defesa, salto. Depois isso, preciso aparecer nas câmeras. É uma coreografia complicada."
Em Cobra Kai, a franquia Karatê Kid funcionou como uma BÃblia, repleta de frases filosóficas do profeta Sr. Miyagi. Nesta temporada em especial, um episódio trata de aquecer os corações do fãs. Não é um retorno real, já que o ator Pat Morita, que interpretou o sansei de Daniel, morreu em 2005. No entanto, o tributo será feito durante a viagem de Daniel para Okinawa, conta Schlossberg. "Quando estreamos a série, logo percebemos que alguma coisa estava faltando. Era o Sr. Miyagi. Nessa temporada foi importante trazê-lo de volta de alguma forma para a vida de Daniel."
Durante a viagem, Daniel vai descobrir uma parte de Miyagi que não conhecia. "A gente sempre pensou que o mestre de Daniel sabia de tudo, mas ninguém sabe de tudo. Então, seria mais curioso descobrir como ele vivia antes de conhecer Daniel", explica Schlossberg. "Na criação, sentimos a presença de Miyagi e Pat Morita conosco, e aposto que será um momento para todos os fãs."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo