13/11/2014 15h45
Documentário 'À Queima-Roupa' estreia em São Paulo
No estapafúrdio loteamento de prêmios do Festival do Rio, no começo de outubro, o júri conseguiu o prodÃgio de dar Redentores a praticamente todos os filmes da competição de ficção, menos o melhor deles - Casa Grande, de Fellipe Barbosa.
Em compensação, o júri redimiu-se fazendo a coisa certa na categoria documentário. Venceu como melhor filme À Queima-Roupa, de Theresa Jessouroun, que também foi a melhor diretora. Se o cinema volta e meia celebra a coragem pessoal como qualidade, então pode-se dizer que Theresa é uma mulher de fibra.
O filme dela expõe o que tem sido a violência da polÃcia no Rio nos últimos 20 anos, desde o tristemente célebre "massacre de Vigário Geral". Ela diz que não se trata de coragem. Prefere utilizar expressões como "consciência" e "ética".
Seja como for, À Queima-Roupa - com o mesmo tÃtulo do thriller de John Boorman com Lee Marvin, de 1967 - é não só um filme necessário, como impactante. Por meio de entrevistas e encenações, falando com sobreviventes, familiares de vÃtimas e colhendo o depoimento do informante Ivan Custódio Lima, Theresa construiu um daqueles documentários que fazem a diferença. E nesta quinta-feira, 13, que o filme estreia em São Paulo, você terá a oportunidade de participar de um encontro da diretora com o público no Espaço Itaú Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569, 3º Andar), à s 19h20 (exibição seguida de debate).
Com rigor, Theresa mostra o processo de intimidação que a polÃcia exerce nas comunidades cariocas. Não é só um exercÃcio de dominação e poder. Na maior parte dos casos, obedece a um objetivo econômico. Os policiais substituÃram criminosos, viraram eles próprios os bandidos no tráfico. Um promotor exibe dados que comprovam que 100% - a totalidade - das chacinas realizadas no PaÃs são obra de policiais. E há agora um subterfúgio. Nas UPPs, desaparecimentos passaram a substituir as mortes. Sem corpos, não se configura o crime. Que PaÃs é esse? Tantas vezes a pergunta já foi feita, mas quase sempre com objetivos especÃficos. Discute-se muito a corrupção da polÃtica, e ela tende a ser generalizada. Já a da polÃcia é mais delicada. O polÃtico põe dinheiro roubado na cueca. O policial saca da arma.
Estudos realizados no PaÃs e no exterior provam que a polÃcia brasileira é a mais violenta do mundo, e que a carioca é a mais violenta do Brasil. As desigualdades sociais podem alimentar esses dados, mas não explicam tudo. Há uma mÃdia sensacionalista que está, irrestritamente, do lado da polÃcia, mesmo quando assassina. Em torno de 44% dos brasileiros concordam com as mortes nas comunidades - o problema é que a polÃcia está matando trabalhadores, não bandidos. A polÃcia ataca até a lei que deveria representar e defender. Pois não foram policiais que mataram a juÃza Patricia Accioli na porta de sua casa? A juÃza descobrira seus crimes e ameaçava prendê-los. Eles se anteciparam.
Fonte: Estadão Conteúdo