22/09/2020 07h20
Ewan McGregor pelo mundo
Com tanta notÃcia ruim no mundo, à s vezes é difÃcil de acreditar na humanidade. O ator escocês Ewan McGregor, que divide seu tempo entre Londres e Los Angeles, sabe disso muito bem. Mas, depois de percorrer quase 21 mil milhas em 100 dias, atravessando 13 paÃses, ao lado do amigo, o também ator Charley Boorman, sua fé no ser humano foi restaurada. "Onde quer que fôssemos, se a moto quebrasse, ou o pneu furasse, sempre tinha alguém para ajudar", disse ele em entrevista ao Estadão. "Há uma bondade inerente à s pessoas." A viagem de Ushuaia (Argentina) a Los Angeles (EUA) virou a série Long Way Up, que estreou na Apple TV+ no último dia 18, com um novo episódio a cada semana.
Não é a primeira viagem do tipo para o ator. McGregor praticamente deu a volta ao mundo numa motocicleta. Ao lado de Boorman, ele viajou de Londres a Nova York pela Europa Central, Ucrânia, Usbequistão, Mongólia, Rússia e Canadá, por 31 mil quilômetros, o que rendeu a série Long Way Round em 2004.
Em Long Way Down, os dois fizeram o trajeto entre Escócia e Cape Town, na Ãfrica do Sul, por três meses, em 2007. Desta vez, no entanto, havia um desafio adicional: usar motocicletas movidas a eletricidade. "Estamos perto de ver o mundo mudar para um jeito mais limpo de ser. Precisamos fazer isso", afirmou McGregor. "Aqui nos Estados Unidos, os republicanos estão lutando desesperadamente para que isso não aconteça, mas é necessário, ou não teremos um planeta."
O primeiro episódio detalha as dificuldades da empreitada, que começam por não haver motocicletas elétricas disponÃveis para fazer a viagem. A Harley-Davidson correu para aprontar duas com uma autonomia razoável, de cerca de 150 quilômetros. Na Patagônia e no Deserto de Atacama, também não há pontos de recarga suficientes. "No fim, demos um jeito. Sempre que parávamos, carregávamos a bateria, fosse num hostel, num restaurante ou num hotel", disse ele, admitindo que houve necessidade de utilizar geradores a diesel. Foi aà que entrou a generosidade das pessoas. Num lugarejo na BolÃvia, uma hospedaria tinha um pequeno abrigo, com um soquete pendurado por cabos. "Nós ligamos a moto de Charley ali, e foi faÃsca para todo lado", contou McGregor.
O ator tentou conectar a sua num outro lugar, mas queimou os fusÃveis do hotel. No fim, acabou usando o mesmo ponto de Charley. "Eu me senti como antigamente, quando não havia postos de combustÃvel e era preciso deixar galões ao lado da estrada. E hoje é fácil. Acho que, em 20 anos, vai ser tranquilo encontrar postos de eletricidade também."
Pessoas generosas
Pessoalmente, McGregor acha que há motivos um pouco egoÃstas para fazer esse tipo de aventura. "Suas responsabilidades são muito simples. É meio como tentar recuperar o espÃrito de moleque, de ficar andando por Crieff, minha cidade na Escócia, de bicicleta. Eu era totalmente livre. Não tinha responsabilidade com ninguém. Nessa viagem, só precisávamos nos preocupar em carregar as baterias e manter a mente aberta para o que podia acontecer no caminho."
Isso incluiu se encantar pela gente que encontrou na estrada - por exemplo, a população tradicional da BolÃvia. "Eu amei La Paz, foi um dos destaques da viagem", contou. "Adorei as vestimentas elaboradas dos indÃgenas, com várias camadas, e chapéus. Foi uma grande experiência." Não faltaram interações com pessoas generosas, amistosas e engraçadas. O oposto do discurso que muitas vezes ouve da boca do presidente americano e outros. "Eu moro nos EUA e sou submetido a essa distorção sobre gente da América Central, da América do Sul, da fronteira, do México. Eu vi essa viagem como uma oportunidade de mostrar ao mundo que não é verdade. Que há maçãs podres em todos os lugares, não é exclusividade de nenhum paÃs. E que os Estados Unidos não estão sendo invadidos."
Há uma lição também, especialmente agora, quando a pandemia faz repensar nas prioridades. "Muitos definem os Estados Unidos como o melhor paÃs da Terra. Mas quem tem direito de dizer isso? Que arrogância. Há um modo de vida nos EUA. E outro na Europa, ou no Brasil", afirmou McGregor. "Não quer dizer que a maneira como os moradores de um vilarejo na Etiópia vivem seja pior. E só diferente. As prioridades são diferentes. Talvez mais simples: comida, abrigo, cuidar dos filhos. E talvez esse seja um jeito melhor de viver."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo