23/04/2018 07h40
Filme sobre violência policial vence É Tudo Verdade 2018
Filmes sobre a violência policial brasileira e o horror da guerra vencem o É Tudo Verdade 2018. "Auto de Resistência", de Natasha Neri e Lula Carvalho ganhou a Competição Brasileira de longas-metragens enquanto "O Distante Latido dos Cães", de Simon Lereng Wilmont, foi o eleito na Competição Internacional de longas.
Ambos debruçam-se sobre mazelas contemporâneas, porém com largo lastro histórico. No Brasil, "Auto de Resistência" mostra como um expediente jurÃdico serve à impunidade de policiais que praticam execuções sumárias no Rio de Janeiro. As imagens são de impacto e, numa delas, vemos de relance a vereadora Marielle Franco, executada há mais de mês por assassinos ainda desconhecidos.
Em "O Distante Latido dos Cães" temos imagens de uma famÃlia na zona de guerra entre Ucrânia e Rússia. A "normalização" dos conflitos, com bombas caindo de tempos em tempos, fuga para abrigos, etc., é vista pelos olhos de dois meninos, Oleg e Yarin, que vivem em Donesk, na Ucrânia. Não há discursos, culpabilizações ou análises. Apenas registro de um cotidiano atroz, que à s vezes pode ser visto apenas como um jogo por olhares infantis.
"Roubar Rodin", de Cristóbal Valenzuela, venceu a Competição Latino-americana de longas. "Nome de Batismo - Alice", de Tila Chitunda, e "Ressonâncias", de Nicolas Khoury, são os curtas vencedores nas categorias brasileira e internacional, respectivamente. "Ex-Pagé", de Luiz Bolognesi, ganhou o prêmio da crÃtica, organizado pela Abraccine (Associação Brasileira de CrÃticos de Cinema). Para os crÃticos, o melhor curta nacional foi "Inconfissões", de Ana Galizia.
"Ex-Pagé" é espantoso - ótimo que tenha sido distinguido pela crÃtica. Mostra o caso de Perpera, pagé do povo Paiter Suruà até ser "destituÃdo" pela chegada de uma igreja evangélica à aldeia. Tendo sua função considerada "coisa do diabo" pelo pastor, foi relegado ao cargo de porteiro do templo. Tudo muda quando uma mulher da aldeia é picada por uma cobra e fica entre a vida e a morte. O ex-pagé, ainda que temporariamente, readquire importância social - sua "eficácia simbólica", para evocar um artigo célebre de Lévi-Strauss sobre o xamanismo. Um filme de resistência, como definiu seu diretor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo